Na verdade, pouco de sólido havia na história inventada pela
Caixa Econômica Federal, e avalizada pelo governo, sobre a corrida à
caça do tesouro do Bolsa Família.
A corrida: nos dias 18 e 19
últimos, um milhão de clientes do Bolsa invadiram agências da Caixa e
depredaram caixas eletrônicos em 13 Estados estimulados por boatos que
garantiam o fim do programa ou o pagamento de uma parcela extra.
A
Caixa disse que adiantou dinheiro no sábado 18 para pagar a multidão de
aflitos, e assim controlar o tumulto. Essa mesma informação foi
repetida pelo vice-presidente da Caixa em entrevista ao “Bom dia,
Brasil” na segunda-feira, dia 20.
Mentira! A primeira.
Gênese
da mentira: a Caixa descobrira que 692 mil famílias possuíam mais de um
cadastro. Decidiu deixá-las com o mais antigo deles. Na sexta-feira 17,
depositou na conta de todos os clientes do programa a mesada que
deveria ser sacada a partir do dia seguinte.
Não avisou a ninguém.
O
presidente da Caixa e o vice-presidente disseram que apenas na
segunda-feira 20 ficaram sabendo do adiantamento do dinheiro feito no
dia 17.
Quer dizer: a área técnica da Caixa adiantou o dinheiro
sem avisá-los - e sem avisar aos bolsistas. E mesmo diante da corrida às
agências nos dias 18 e 19 não os avisou sobre o que fizera.
Muito
menos o presidente e o vice telefonaram no fim de semana para a área
técnica da Caixa interessados em saber o que poderia ter provocado a
confusão em 13 Estados.
Improvável que tenha sido assim.
O mais provável é que estejamos aí diante da segunda mentira.
Avancemos
para a terceira: o presidente da Caixa confessou que escondeu do
distinto público entre os dias 20 e 24 que o dinheiro do Bolsa fora
depositado no dia 17 e não no dia 18. E que há cinco dias ele já sabia
disso.
Procedera assim para se inteirar em detalhes sobre o que ocorrera. Sem pressa, naturalmente.
Menos. Menos. Bem menos!
Uma
hora de reunião seria mais do que o suficiente para ele se inteirar
sobre os detalhes da lambança promovida por seus subordinados.
Para que serviram, pois, os cinco dias de silêncio do presidente da Caixa?
Quando
nada para que a ministra dos Direitos Humanos atribuísse à oposição o
boato sobre o fim do Bolsa Família; Dilma chamasse os autores do boato
de “desumanos e criminosos”; o ministro da Justiça falasse que por trás
de tudo haveria uma “grande orquestração”; Lula debitasse o boato na
conta de “gente do mal”; e Ruy Falcão, presidente do PT, tratasse o
episódio como “terrorismo eleitoral”.
O ministro da Justiça afirmou peremptório: “Não tenho dúvidas de que foi cometido um crime. Ou mais de um crime”.
O
período em que a oposição foi posta na berlinda e sob suspeição teria
durado mais se a Folha de S. Paulo, na sexta-feira 24, não esbarrasse
numa dona de casa da região metropolitana de Fortaleza. Ela disse que
sacara o dinheiro do Bolsa na sexta-feira dia 17.
- Levei um
susto. A Caixa nunca pagara antecipadamente. A notícia se espalhou. E
deve ter sido isso que provocou toda aquela confusão.
Talvez sim. Talvez não - a conferir.
Havia
mais uma possível mentira a ser jogada na mesa pelo governo: o boato
sobre o fim do Bolsa teria sido disseminado por uma agência de
telemarketing do Rio de Janeiro.
Na mesma sexta-feira 24, a
Polícia Federal espalhou a notícia sobre a agência de telemarketing.
Anteontem, dia 28, a notícia começou a se desmanchar. Ontem, a Polícia
Federal ressuscitou a notícia.
Conclusões?
Tire as suas. A não ser que ainda julgue cedo para isso.
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