Cientistas já conseguiram reverter a calvície e recuperar os pelos de camundongos cobaia. Aos calvos, no entanto, resta apenas a espera. Um ano após anúncio de que a finasterida pode causar danos permanentes ao homem, a medicina ainda não encontrou um novo tratamento contra a calvície.
Aretha Yarak
Calvície: o problema atinge cerca de 85% dos homens acima dos 65 anos
(Thinkstock).
Quando os fios de cabelo de Júlio César (100 – 44 a.C.) começaram
ralear, o imperador romano se pôs em batalha. Contra a eminente
calvície, se valeu do inimaginável: as receitas exóticas contra a careca
incluíam ratos domésticos queimados, gordura de urso e vísceras de
veado. A receita, é claro, não produziu um fio de cabelo a mais na
cabeça do imperador. A calvície, que atinge em algum grau até 50% dos
homens acima dos 50 anos de idade, permanece pouco compreendida pela
medicina até hoje. Os cientistas não entendem, por exemplo, o que,
exatamente, causa a atrofia da matriz que produz os fios de cabelo.
Enquanto isso, tratamentos que surgiram como grandes promessas nos
últimos anos, não tiveram avanços significativos — e nem partiram para
os testes clínicos em humanos.
A CALVÍCIE.
A alopecia androgênica, como é conhecida a calvície, se caracteriza pelo afinamento progressivo do fio de cabelo. Esse afinamento é uma consequência da redução em volume da matriz capilar (raiz, onde se produz os fios), causada por uma hipersensibilidade ao hormônio diidrotestosterona (DHT, um resultado da metabolização da testosterona). A enzima responsável pela transformação da testosterona está mais presente nas regiões frontais da cabeça, por isso, predominantemente, os homens ficam calvos nas "entradas" e no cocuruto.
A alopecia androgênica, como é conhecida a calvície, se caracteriza pelo afinamento progressivo do fio de cabelo. Esse afinamento é uma consequência da redução em volume da matriz capilar (raiz, onde se produz os fios), causada por uma hipersensibilidade ao hormônio diidrotestosterona (DHT, um resultado da metabolização da testosterona). A enzima responsável pela transformação da testosterona está mais presente nas regiões frontais da cabeça, por isso, predominantemente, os homens ficam calvos nas "entradas" e no cocuruto.
Com a diminuição em tamanho da matriz, os fios acabam sendo produzidos
cada vez mais finos. Ao fim de diversos ciclos de crescimento capilar,
essa matriz fica tão pequena que, incapaz de produzir mais fios, se
atrofia. De acordo com Arthur Tykocinski, dermatologista especializado
em cabelos e pelos, a calvície afeta em algum grau cerca de 50% dos
homens aos 50 anos de idade — e de 10% a 20% das mulheres. No padrão
masculino, o afinamento costuma acontecer nas "entradas" e no cocuruto.
Já nas mulheres, a calvície tem um padrão mais difuso e menos
localizado.
A época ideal para se procurar um dermatologista é quando se percebe
que os fios começam a ficar mais finos. Os remédios existentes hoje,
como a finasterida, não trazem de volta os fios que não crescem mais. O
medicamento ajuda apenas a dar uma estabilizada na queda. "Depois que a
pessoa ficou careca, a única opção é o transplante", diz Tykocinski.
Publicada em fevereiro de 2011 no periódico PLoS One, pesquisa
conduzida pela Universidade da Califórnia descobriu uma nova droga
eficiente em fazer crescer pelos em camundongos carecas. A descoberta
aconteceu quase ao acaso. Enquanto estudavam como o stress interfere nas
funções gastrointestinais, os pesquisadores acabaram por encontrar um
composto químico que conseguia induzir o crescimento capilar, batizado
de astressin–B.
Esse composto agia bloqueando um hormônio relacionado à perda de
cabelo. De acordo com Million Mulegeta, coordenador do estudo, a
descoberta pode levar a novas formas de tratamento da calvície em
humanos. Infelizmente, disse ao site de VEJA, a pesquisa não apresentou
uma evolução significativa nos dois anos. Os testes clínicos e de
toxicidade em humanos ainda nem começaram, e não há perspectivas de
apresentação de novos resultados.
Em outra pesquisa, publicada em março de 2012 no periódico Science Translational Medicine,
cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos,
identificaram um lipídio responsável por inibir o crescimento do cabelo.
Chamado de prostaglandina D2 (PGD2),
o lipídio impedia o crescimento capilar por meio de um receptor chamado
GPR44 — que é um alvo terapêutico promissor para a calvície masculina e
feminina. De acordo com George Cotsarelis, coordenador do estudo, em um
ano o levantamento não teve muito avanço prático. "Não há nada de novo,
nenhum dado novo. Ainda estamos nas fases de pesquisa pré-clínica",
disse em entrevista ao site de VEJA.
Fitoterápico — De acordo com o dermatologista Vacinir
Bedin, presidente da Sociedade Brasileira do Cabelo, há um fitoterápico
no mercado que vem sendo usado por alguns pacientes. Os extratos da
planta Serenoa repens, uma planta nativa da América do Norte,
teria uma função andrógena muito semelhante à da finasterida, mas com
menos efeitos colaterais. "Não há estudos sobre esse extrato
demonstrando que ele evita a queda de cabelo. Mas existem pesquisas que
mostram que ele bloqueia a enzima 5-alfa-redutase, assim como a
finasterida", diz Bedin. O uso do fitoterápico, no entanto, segue como off label (fora da sua indicação original em bula).
Genética — Em 2012, a empresa americana 23andMe conseguiu identificar seis variações genéticas associadas à calvície de início precoce. O estudo, publicado no periódico PLoS Genetics,
significou o primeiro passo na melhor compreensão do problema. Dois
anos antes da descoberta, a Universidade de Columbia, nos Estados
Unidos, já havia encontrado uma mutação genética que leva à queda dos
cabelos em homens. A identificação do gene APCDD1 ajudou a entender
melhor mecanismos de ação que levam ao afinamento capilar. Os achados
genéticos, porém, ainda não conseguiram chegar à prática clínica — e
devem demorar algum tempo antes de serem levados para dentro dos
consultórios médicos.
Apesar das descobertas recentes, os avanços médicos em relação à
calvície ainda esbarram no conceito mais básico: como ela acontece.
"Ainda não se sabe exatamente o acontece, qual o mecanismo exato que
leva à diminuição da matriz capilar", diz Thais Ferraz, dermatologista e
especialista em tricologia. Se os ratos eram queimados nos tempos de
Júlio César, atualmente eles são os únicos beneficiários dos parcos
achados contra a calvície.
Fonte:Veja
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