Blogueiros iranianos protestam contra execuções transformadas em espetáculos.
Tradição
covarde – O número de execuções no Irã ainda é alto. Segundo a Anistia
Internacional (AI), no ano de 2012, a pena de morte foi executada mais
de 500 vezes no país. Uma em cada dez pessoas foi executada em público,
afirmam organizações de direitos humanos. O número de execuções públicas
vem crescendo já há alguns anos.
Em 20 de janeiro
último, dois jovens que haviam sido condenados à morte por roubo e
extorsão, foram executados publicamente. Ambos tinham menos de 25 anos
de idade. Como de costume nas execuções públicas no Irã, eles foram
enforcados em guindastes instalados sobre carros de polícia.
Mas, dessa vez, a
execução não aconteceu, como de costume, num ginásio de esportes ou numa
praça de mercado, mas no meio do chamado Parque de Artistas, um ponto
de encontro de escritores e músicos no centro de Teerã.
Recado para intelectuais e dissidentes
Essas recentes
execuções públicas levaram a um intenso debate na blogosfera iraniana.
Muitos se perguntam por que justamente o Parque dos Artistas fora
escolhido para servir como lugar de execuções. Um blogueiro de Teerã
levantou a suposição de que o governo queria mandar um recado para
intelectuais e dissidentes. “Por meio de um arrepiante espetáculo de
execuções, o governo quer mostrar que a pena de morte também pode ser
possível para críticos do regime.”
Esse ponto de vista
foi reiterado por outro blogueiro: “Ontem, execução no ginásio de
esportes; hoje, execução no Parque dos Artistas. Por que a execução da
pena de morte acontece em tais locais públicos? Talvez se queira intimidar ainda mais a população”.
Outros internautas
acham que o local das execuções seria algo secundário. Eles exigem a
abolição da pena de morte. Um usuário apontou ainda para o fato de que
muito pouco tempo se passou entre a prisão e o enforcamento dos dois
jovens. Por isso, ele questionou o processo jurídico e as audiências.
Reações à página do Facebook da Deutsche Welle
Também na página do
Facebook da redação persa da Deutsche Welle, em poucas horas, milhares
de usuários reagiram ao acontecimento, comentando publicamente a
execução e criticando o governo.
Muitos eram da
opinião de que nem a pena de morte nem as execuções públicas foram
capazes de reduzir, nos últimos anos, o número de crimes no Irã. “Se a
pena de morte tivesse funcionado como forma de intimidação, menos crimes
teriam sido cometidos”, escreveu um usuário. “Os números aumentaram
significativamente.”
Críticas a espectadores
Na blogosfera e redes
sociais iranianas, todavia, as críticas não se dirigem somente a
opositores do governo. Os comentários de muitos usuários se aplicam
também contra as massas de pessoas que assistem, amontoadas, a uma
execução pública.
“Hoje em dia,
presenciar uma execução se tornou uma espécie de atividade de lazer”,
criticou um usuário. Da mesma forma, outros usuários também criticam em
seus postings que principalmente pessoas jovens e até mesmo crianças se
aglomeram nas filas para assistir a um enforcamento.
“Violência gera
violência”, escreveu um usuário do Facebook questionando: “Por que vocês
trazem suas crianças quando querem celebrar uma execução em público?
Execuções públicas são uma aplicação estatal de violência. Quem pode
garantir que os filhos de vocês, que vivenciam tal violência nesta
idade, não sofrerão transtornos mentais e mais tarde se tornarão
criminosos?”
Também o blogueiro
iraniano Amir Hadi Anyari advertiu de mais contenção. Ele aponta para
uma responsabilidade da sociedade iraniana. “Enquanto houver pessoas que
sobem em árvores para conseguir um lugar melhor para assistir a um
enforcamento e que registram a execução em seus celulares, é difícil
imaginar o fim da pena de morte. Aqueles que exigem o fim das execuções
no Irã não têm a menor ideia da realidade da sociedade iraniana.”
Defensores da pena de
morte também se manifestaram na blogosfera. Eles consideram essa
penalidade uma forma de intimidação. No entanto, os opositores e
simpatizantes estão de acordo numa questão: as execuções não devem
acontecer em locais públicos.
(Do Deutsche Welle)
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