Pastor Marco Feliciano |
No fim, acredito que ele
soube muito bem canalizar as justas críticas em relação ao seu discurso
homofóbico e segregador de direitos como uma cruzada de “hereges”
contra o já “perseguido” povo protestante (ouvi falas de um amigo pastor
defensor do deputado federal do PSC sobre as narrativas bíblicas de
ataques aos cristãos e que as gravações contra o seu colega de profissão
foram todas manipuladas por quem não aceita Deus e seus preceitos).
A disputa trás algo que é
crucial para se pensar as atividades em que existe combate – nem sempre
a intenção que motiva um agente ou mesmo um movimento social gera o
resultado almejado. Quando se desconsidera a lógica dos interesses e
crenças em jogo, não raro universalizando um ponto de vista e
subestimando a visão diversa dos outros envolvidos, a “paulada” dada num
terceiro só o deixa em situação mais confortável.
Feliciano não precisa
ganhar a mente e o coração de todos, mas como disse, apenas daqueles que
representa. Até porque atua numa casa legislativa que segue a noção de
proporcionalidade e não da maioria, como nas eleições majoritárias. Por
ora, Feliciano não apenas não saiu da presidência da Comissão dos
Direitos Humanos, como também deve ter crescido entre o seu
eleitorado. A “culpa” se deveu em parte ao etnocentrismo dos movimentos
sociais, que perderam de vista quem era o seu interlocutor e como este
concebe o mundo. Esqueceram que o Marco Feliciano tem, sim, base social,
quer seja agradável ou não aceitar essa verdade.
O Brasil é um país em
que causas conversadoras ainda contraem muito prestígio. Marco Feliciano
foi mais astuto em jogar com isso. Paradoxalmente, soube melhor do que
os seus opositores utilizar o “senso de proporção”, milimetrando de modo
prático os seus movimentos. Ao passo que quem deveria ser guiado pela
razão se deixou levar pelas ineficazes correntes da emoção. O porta voz
do atraso conservador e cerceador de vida plena para todos,
independentemente de cor, condição de classe ou orientação sexual, pelo
menos até aqui, ganha de goleada.
CONTRA-ATAQUE
A democracia produz o
seu contrário, aquele que os federalistas liberais acertadamente tanto
temeram. Através de meios legais, um ator político legitima discussões e
a possibilidade de fazer valer regulamentações não democráticas, na
medida em que atenta contra minorias. Com musculatura, Feliciano agora
tenta aprovar projeto em que prevê o retorno da ultrapassada prática
denominada de “cura gay”. Os movimentos sociais precisarão de uma pauta
mais reflexiva para estabelecer novo diálogo com a sociedade.
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